Os dias doidos e doídos de Sabrina Abreu
No ‘Diário da quarentena’, escritora revela que enfrenta o confinamento social postando versos no Instagram
Helvécio Carlos// Estado de Minas
Sabrina Abreu, jornalista e escritora
Desde 14 abril, cinco semanas depois de aderir ao isolamento social, tenho escrito notas isoladas, minhas percepções sobre o tempo atípico em que vivemos contadas em verso. Posto todos os dias no Instagram (@abreusabrina), quase sempre mais de uma vez ao dia, e o conteúdo muda tanto quanto o meu humor. Aqui, compartilho parte do que tenho escrito enquanto espero.
1. A vida é o que acontece, enquanto você espera a vida voltar ao normal.
2. Agora, a gente não sabe o que vai acontecer. Antes, a gente não sabia que não sabia.
3. Me prenderam. Fiquei livre.
4. Mais um dia. Mas que dia?
5. Me desculpa todas as vezes em que eu podia ter olhado pra você, mas olhei pro celular.
6. Finalmente, nós temos tempo. Que tempo estranho.
7. A gente não quer viver como antes. A gente quer viver como nunca.
8. Depois do fim do mundo, tem outro mundo pra gente sonhar.
9. Agora estou produtiva. Agora não estou. Agora estou de novo.
10. No isolamento, uma estrela cadente surge quando o último vizinho apaga a última luz acesa no prédio da frente. Faça um pedido.
11. Todas as fases da lua, maré alta, céu de outono manchado de rosa. A natureza é o único espetáculo que segue em cartaz.
12. Assisto ao jornal e penso: pelo menos desligaram o aquecedor daquela piscina.
13. Contagem regressiva pra saber quem você vai ser depois de tudo.
14. Menos distopia. Mais utopia.
15. Agora eu sei como é fazer aniversário nas férias da escola.
16. Hoje eu passei em frente ao seu prédio.
17. Todo mundo espera tanto. Mas alguns ainda esperam 600 reais.
18. Indígenas estão em perigo (há 500 anos).
19. Estamos vivendo, ou apenas assistindo a lives?
20. Eu quero a minha mãe (segundo domingo de maio)
21. Olhei bem pra ansiedade, e ela já não era assustadora. Dançamos juntas na sala.
22. Mais um dia de espera. Menos um dia de espera.
23. Dias doidos. Dias doídos.
24. Se pá, a gente já está diferente.
25. Agora ficou mais fácil saber quem está perto.
26. Como você está lidando com isso? Como você está?
27. O carnaval que vai ser rever você.
28. Levando uma vida de cinema. O filme é de ficção científica.
29. Mais uma semana à espera de uma vacina contra o populismo.
30. esperAR.
31. Tive um pesadelo com Manaus. Eu estava acordada.
32. Você é sua casa neste mundo. A melhor casa do mundo.
33. Sinto saudade de você – mas não se empolgue. Sinto saudade até do elevador.
34. Hoje é quarta-feira (eu acho).
35. Mais um dia (de cada vez).
36. Sinto um vento de mudança./ Eu acredito/ Eu sopro um sopro um sopro fraco./ Mas é o que posso: eu sopro junto.
37. Tem silêncio que é reflexão. Tem silêncio que é omissão.
38. espera/ esperaNÇA.
39. Asa comigo?// cansei de nós presos.
40. O novo mundo sou eu.