breves prosas poéticas Clipping

Clipping: “Notas Isoladas”, na Revista Encontro

02/10/2020

Escritoras mineiras transformam angústias da Covid-19 em posts no Instagram

As publicações, cheias de lirismo e potência, tornam-se verdadeiras páginas de diário durante a pandemia

Marina Dias
postado em 06/10/2020 00:22 / atualizado em 06/10/2020 00:25

Leia a matéria na íntegra.

Era de se esperar que, em um momento tão atípico como o de uma pandemia, obras sobre as experiências pessoais de isolamento social e testemunho de cenas tão impactantes mundo afora fossem aparecer. Uma das formas que esses escritos têm tomado é a de curtos textos no estilo diário pessoal, porém, em posts nas redes sociais. Para o prazer de quem acompanha escritoras no mundo virtual, algumas delas têm feito a experiência, nos brindando com linhas cheias de reflexão, poesia e potência. Elas têm dividido seus temores, apreensões, irritações, rotinas e alegrias com seguidores de forma diária – ou ao menos bastante regular – no Instagram, rede que originalmente foca mais na imagem do que nos textos. Cada uma com um formato, estilo, apresentação, dão materialidade a sentimentos que muitos têm tido neste momento.

A escritora mineira Sabrina Abreu, por exemplo, tem feito uma série chamada Notas Isoladas, em que posta uma imagem de um caderno com a contagem dos dias de quarentena e coloca um aforismo, um pensamento, uma frase relacionada com seu dia ou com acontecimentos que tenham marcado o cenário nacional ou mundial. A jornalista, que mantém um diário offline há muitos anos, diz que a experiência do diário visual no Instagram é diferente de tudo o que já fez, desde os escritos “impublicáveis” de seu caderno pessoal até seus cinco livros já lançados. “Estamos vivendo uma época totalmente diferente, e eu nunca tinha tido essa prática na internet, mas pensei que sou uma pessoa que cria e quis experimentar esse suporte”, afirma. “E estou muito encantada”, completa.

A experimentação já rendeu quase 200 posts, que as pessoas curtem, compartilham e comentam – muitas vezes porque se identificam com aquilo que leem. No post “Todo dia eu digo ‘só mais um pouquinho’ e só mais um pouquinho eu consigo há mais de 100 dias”, por exemplo, uma seguidora comentou: “meu deus, SIM!!! É isso que eu tô repetindo aqui também, obrigada por esse post.” Apesar de não escrever buscando necessariamente a identificação, Sabrina diz que fica feliz com a possibilidade de proporcionar o sentimento, quando é o caso. “Saber que tem alguém lá fora passando por algo parecido é muito legal. Dou ainda mais valor para as redes sociais depois desse projeto, estou achando mágico”, afirma.

O Notas Isoladas ganhou projeção e virou até tema de uma palestra no Tedx Talks São Paulo, em julho, chamada “Eu escrevo todo dia e quero que você escreva também”, em que Sabrina fala sobre sua prática e sobre alguns diários famosos da história, como o da jovem holandesa Anne Frank, publicado por seu pai após sua morte no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, na II Guerra Mundial. Pelas Notas Isoladas, é possível perceber as mudanças de humor, sentimentos e visões da pandemia com os quais muitas pessoas podem se identificar. Primeiro, não achando tão ruim ficar em casa, depois a angústia sentida pelas mortes, pelas pessoas sofrendo, e em seguida colocando na pauta acontecimentos nacionais e internacionais, como o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam). “Foi um arco inteiro de narrativa”, diz Sabrina. “Alguns posts saem melhores, outros piores, é assim mesmo. Estou achando muito legal e enquanto tiver quarentena, eu quero continuar, porque tem feito sentido para mim”, afirma.

Comments

comments

Postagens relacionadas

Comments

Sabrina Abreu