Eu queria que minhas amigas fossem famosas, só pra mais gente poder ler as análises políticas, sociais e econômicas que elas fazem, pelo whatsapp, com as frases mais brilhantes entremeadas por memes, gifs e figurinhas. Não quaisquer figurinhas; elas têm um arsenal imenso e só usam aquela que se encaixa perfeitamente ao tema da vez. Neste mundo, em que só por ter um microfone ou um espaço fixo no jornal tanta gente afirma barbaridades e bobagens, minhas amigas, elas é que mereciam palco, manchete, capa e close. A última coisa que eu queria na vida era participar de um reality show e, mesmo assim, fico sonhando às vezes com mil câmeras e gravadores registrando nossas conversas, porque eu não merecia ouvir aquilo tudo, sem ter mais testemunhas. Você não está entendendo, elas conseguem misturar o assunto da ordem do dia a citações de personagens de literatura russa e de seriados americanos, professores cabeçudos, crianças da família, novelas das antigas, enquetes do Uol, resultados dos testes do Buzzfeed, letras da MPB. Minhas amigas são um universo inteiro e são tão inteligentes, mas tão inteligentes, que, inclusive, muitas vezes dizem “isso eu não sei”. Não vi, não li, não gosto, nunca ouvi falar. E é por isso que eu queria que tivessem um programa ou uma coluna só delas, porque nunca, nunquinha mesmo nesta vida eu vi alguém que admitisse o que desconhece, ao vivo na TV ou numa página do jornal.
