breves prosas poéticas

Quase sempre, a gente voa

26/02/2019

 

Se cair, caia de pé”, eles disseram. Mas de vez em quando, a gente cai com a cara enfiada no chão mesmo. Faz até barulho.
Na teoria, essa coisa de só cair de pé parece fácil. Basta calcular a aceleração, o peso e a rota direitinho. E é aí que complica, porque a gente nunca foi boa em fazer contas. É preciso observar para onde está indo, o que dificulta a vida de quem só sabe se jogar de olhos fechados. O ideal é pensar bem antes do pulo. E se pensar muito, a gente perde a coragem.
A gente tem medo de quebrar a cara. Mas tem mais medo de ter medo.
E tem, mais ainda, fé de que vai sair voando. A gente é adepta do que ficou conhecido na literatura especializada como otimismo-kamikase. É só nessa esperança que alguém salta, sem antes marcar um X preto no chão para o caso de precisar de um pouso de emergência.
Cair de pé, a gente nunca cai. Umas poucas vezes, a gente se parte em pedaços. Quase sempre, sem pensar muito e sem saber fazer contas, a gente voa. E quando chega no alto, finalmente, a gente abre os olhos.

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Sabrina Abreu