Em São Paulo, toda vez que me apresentam a alguma pessoa, qualquer pessoa, parece que o único jeito de iniciar uma conversa é responder sobre trabalho.
Sem querer, eu mesma comecei a fazer esse tipo de pergunta. Mas há tantas outras coisas que quero saber primeiro.
Me fala de você. Qual é o seu Beatle favorito? A matéria em que ia melhor na escola? Quando foi a última vez que falou com sua mãe? Você acredita em anjos?
Sabia que o chá verde e o chá branco vêm da mesma planta? Sabia que há um ano e meio que vivo aqui?
Na infância, os ThunderCats eram seu desenho favorito? Você também brigava com seus primos para ser o Lion?
Era chato fazer aniversário sempre nas férias? Sua casa tem uma árvore de Natal? Em que hora do dia você se sente melhor?
Tudo bem se eu perguntar sobre sua tatuagem? E essa cicatriz no supercílio?
Seus avós estão vivos? Você usa agenda de papel? Sabe dirigir? Aprendeu a fazer risoto?
Eu até quero saber do seu trabalho, sim: sua mesa é bagunçada, ou organizada? A vista da sua janela é bonita?
Gosta de couve-flor? Praia? Cat Stevens? Já sonhou em ser astronauta? Que livro está sobre o seu criado-mudo?
Se pudesse estar em qualquer lugar agora, em vez de aqui, onde queria estar? Por que é que você não está lá