Pelo amor que Freud tinha pela cultura romana, a gente pede. Pela amizade de Dom Quixote e Sancho Pança e pelos personagens femininos de Elena Ferrante, que milhões de meninas e mulheres ainda precisam conhecer, Paulo, salve os livros. Você disse que livro é coisa da elite, a gente admite que você entende de elite, mas Paulo, de livro a gente entende. Ama livro, grifa, dobra o pedacinho da página, tem sempre um na bolsa, vários na mesa de cabeceira, outros empilhados na sala. E até na cozinha. A gente escreve e lê livro, e dá livro de presente, em datas comemorativas ou num dia qualquer só porque sim. Recomenda livro sem ninguém ter pedido dica nenhuma. Paulo, a gente é só classe média. A gente é a prova viva de que livro não é coisa da elite — se bem que todo mundo fica mais rico depois de se tornar um leitor (céus, Paulo, a gente está falando de um jeito subjetivo, tenta prestar atenção). Por exemplo: quem leu aquele livro do Calvino consegue olhar as cidades e ver mágica, além de viadutos e prédios. Um leitor sabe que existe o verso e a prosa, mas existe Guimarães Rosa que é prosa e poesia ao mesmo tempo, é a própria vida, palavra após palavra e nos espaços brancos entre elas também. A gente entende que você não entende, mas, Paulo, foca nos números. Você acha justo um tributo de 12% sobre os livros, enquanto o autor ganha 10% sobre o preço de capa? Tá vendo? Esse foi um argumento que fez sentido? Ufa. Paulo, a gente sabe que você olha pra um prédio e só consegue ver concreto, mas, por favor, não tira da gente a mágica. #defendaolivro
// para Paulo Guedes, com amor (pelos livros).