Na segunda-feira (16), subi ao palco do TEDxSãoPaulo e eu não estava sozinha. Levei comigo minha urna amarela, a mesma que tem me acompanhado em tantas viagens, minha companheira no experimento social “O que você faria agora?”. Adotei a urna, para garantir o anonimato (e, idealmente, a sinceridade) das respostas de quase 300 pessoas, com quem conversei em 15 cidades. A cada uma, fiz a mesma pergunta: “Se pudesse fazer qualquer coisa, o que você faria agora?”. O projeto nasceu…
Eu nasci na Maternidade Otaviano Neves, em Belo Horizonte. Renasci numa sala vazia, num prédio do Bairro Sumaré, em São Paulo. Entre uma coisa e outra, renasci em Lev Hamfratz, uma estação de trem. Nasci sob o signo de touro. Morri sob o signo de câncer. Era um dia 24 de junho. Num feriado no setembro seguinte, mesmo morta, fui aos Lençóis Maranhenses, onde nada foi feito para durar. Montes de areia se desfaziam com o vento e lagoas feitas…
A felicidade nem sempre é um céu azul. Às vezes, a felicidade é estar no uber num dia frio e ouvir o motorista dizer que o tempo está bom para tomar uma sopinha. A felicidade é quando a cidade onde você vive há um ano decide amar você de volta. É a primeira pessoa para quem você liga, se acontece algo fora do comum. A felicidade é uma chamada de vídeo, em vez de uma ligação. Mas de vez…
Muita gente não sabe que seus pais já foram jovens. Que existe mulher hemofílica. Que o menino mais bonito da classe sempre esteve ciente de que era o mais bonito da classe. Que ficar triste de madrugada é mais triste do que de dia. E que a melancolia do domingo é mais aguda que a da terça-feira. Que negroni é amargo, mesmo pra quem gosta de negroni. Que até quem diz não gostar de verão fica mais feliz no verão.…
Agora que já falamos bastante dos defeitos do brasileiro — o hábito de estacionar em fila dupla, desrespeitar o limite de 12 volumes no caixa rápido, não lembrar de confirmar presença num evento –, podemos nos concentrar em uma qualidade que o distingue da maior parte da população mundial. Uma característica na qual, geralmente, não prestamos atenção, mas que merece ser exaltada e exportada: a alegria de tomar banho todo dia. Mais de uma vez por dia. Higiene pessoal é…
Então deixa eu contar meus fracassos pra você. Já consegui provocar um acidente de trânsito batendo em dois carros de uma vez. Eles estavam parados. Na época do colégio, demorei a aprender a olhar as horas. Evito relógios de ponteiro até hoje. Tropecei na frente de todo mundo na segunda bienal de literatura pra que fui convidada. Quis ficar invisível. Minha letra é feia. Eu torcia para ninguém me chamar pra jogar na educação física. Torcia pra ninguém lançar a…
O clima de campanha eleitoral deixa a gente meio na dúvida, mas eu estive coletando provas irrefutáveis (ou, talvez, ao menos bons indícios) de que as pessoas são boas. Por exemplo: quando uma família endividada participa de uma prova num programa de TV, as pessoas torcem para a família levar o prêmio em dinheiro e ainda ganhar um caminhão cheio de produtos de limpeza. Toda vez que uma criança de dois anos estende uma xícara de brinquedo para as pessoas,…
O presidente disse que os índios não falam nossa língua. Eu falo a língua dos portugueses, mas queria falar também a língua dos kalapalos, ianomâmis, guajajaras. Saber como se diz boa noite em amanaié. Saber se o Sol é feminino ou masculino em paracanã, assurini-do-xingu e embiá. Dizem que a palavra “saudade” só existe em português, mas como ter certeza se eu não sei como os caiowás denominam a falta que sentem de alguém ou alguma coisa? Como se diz…
Se cair, caia de pé”, eles disseram. Mas de vez em quando, a gente cai com a cara enfiada no chão mesmo. Faz até barulho. Na teoria, essa coisa de só cair de pé parece fácil. Basta calcular a aceleração, o peso e a rota direitinho. E é aí que complica, porque a gente nunca foi boa em fazer contas. É preciso observar para onde está indo, o que dificulta a vida de quem só sabe se jogar de…